Quando pensamos em sustentabilidade na cozinha, achamos que é um movimento dos nossos dias. Uma moda surgida recentemente e que, num ápice, tomou conta das redes sociais, qual trend do Tik Tok seguido de várias hastags para dar um empurrão no algoritmo e aumentar o engagement. No entanto, descobrir as origens dessa conversa sobre redução do desperdício alimentar é como fazer uma viagem pela nossa história enquanto comunidade.
São anos e anos marcados pela escassez de recursos (alimentares e económicos) que se foram refletindo na nossa gastronomia, fazendo jus à máxima de que “nada se perde, tudo se cozinha”. Lembremos que, até há bem pouco tempo, abrir a porta de uma coisa chamada frigorífico e encontrar um supermercado em miniatura lá dentro era uma visão só ao alcance dos futuristas. Facilmente nos salta à memória a lenda das tripas à moda do Porto, ou até mesmo da açorda, esse ex-libris da culinária alentejana. Resultado da presença dos árabes em terras lusitanas, foi ganhando fama como prato de subsistência muito vantajoso em alturas em que os alimentos eram escassos.
Para não ferir suscetibilidades e chocar os mais conservadores, há que dizer que a receita da açorda não é universal, mudando de região para região e até mesmo de família para família. Portanto, esta que partilho convosco é apenas uma das muitas versões. Contudo, mantém o elenco principal: alho, azeite, ervas aromáticas frescas e fatias de pão. Além de ser uma receita rápida de se fazer, tira partido das sobras de pão duro, tornando-a numa refeição muito saborosa e reconfortante.