O espírito natalício não fica completo se a cozinha não estiver a fervilhar de coisas boas. Por isso, vim dar-vos uma ajuda com a sugestão destas broas Castelar. Para quem não conhece, são um tipo de broa doce tradicional portuguesa que se caracteriza por uma textura macia no interior e uma crosta ligeiramente firme por fora e bastante dourada.
O seu sabor combina as notas doces com uns toques cítricos e a frutos secos. Embora seja uma presença recorrente ao longo de toda a época fria do ano, estas broas não podem mesmo faltar na mesa de Natal de algumas famílias.


Ao que parece, a origem exacta das broas Castelar não está documentada em nenhum documento histórico. Tal como acontece com muitas especialidades regionais, foram evoluindo ao longo do tempo nas cozinhas familiares e nas pastelarias locais, tornando-se tão populares nas gerações do século XX.
As broas Castelar têm uma ligação forte a Lisboa e talvez isso explique que, durante grande parte da minha vida passada no norte, elas nunca tenham sido avistadas em minha casa. No entanto, hoje em dia, a globalização fez o seu trabalho e já é possível encontrar estas broas espalhadas um pouco pelo país, embora a tradição ainda de ir às confeitarias antigas da capital em vésperas de Natal ainda se mantenha.
As receitas de broas Castelar apresentam variações nos seus ingredientes, o que é natural na doçaria tradicional, mas alguns permanecem inalterados:
- Puré de batata-doce (é ele a base da massa)
- Farinha de trigo e de milho
- Açúcar
- Mel (mantém o interior húmido por mais tempo)
- Ovos (para ligar e enriquecer a massa)
- Aromas cítricos (raspa de laranja ou de limão conforme os gostos)
- Frutos secos (farinha de amêndoa ou amêndoa picada, embora também já existam versões com coco ralado)
- Especiarias (canela ou uma pitada de noz-moscada)
Por serem parte do património oral e familiar, as proporções de alguns ingredientes variam. Há versões mais ricas em frutos secos, outras com mais aroma cítrico ou com batata-doce. Dizer que “esta é a única receita” seria bastante enganador e pretensioso. O que posso dizer é que esta é a receita que faço e a que agrada mais.



A farinha de milho é assim tão importante?
Uma curiosidade é o porquê da mistura de farinhas, em particular o uso da farinha de milho. O seu papel é decisivo na textura, cor e até no sabor das broas. Por isso, deixo aqui uma lista de motivos para que nunca caiam na tentação de substituir este ingrediente.
1. Dá estrutura sem tornar a broa pesada
A farinha de milho não tem glúten, por isso impede que a massa fique demasiado elástica ou “pãozada”. Isso resulta numa broa mais macia por dentro, com uma mordida mais firme e que não cresce como bolo, mantendo o aspeto tradicional das broas.
2. Contribui para a textura ligeiramente granulada
A farinha de milho dá aquela sensação de “areado fino” muito característica destas broas. Sem ela, a broa fica mais semelhante a um biscoito de batata-doce e de textura uniforme.
3. Melhora a cor
A farinha de milho, por ser amarela, contribui para o seu tom dourado e ligeiramente alaranjado que tanto se associa às broas Castelar.
4. Absorve humidade da batata-doce
Como a receita leva batata-doce cozida e transformada em puré, a farinha de milho ajuda a equilibrar a humidade. Isso evita que a broa fique mole, mantendo a forma e impedindo que rache ao assar.










